Após 48 horas de refúgio no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, de fazer o “comício” final em ato religioso e negociar o roteiro de sua prisão – estabelecendo algumas condições –, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato, permaneceu calado e sério durante o percurso de São Bernardo do Campo (SP) até Curitiba.
O documento de rendição de Lula chegou em um envelope de papel. O ofício foi trazido por um policial federal que voou com o ex-presidente no helicóptero que aterrissou na sede da PF na noite de sábado, 7 de abril. A prisão de Lula foi o desfecho de uma tensa, desgastante e longa negociação entre policiais e emissários petistas iniciada na véspera – ainda no prazo “ofertado” pelo juiz federal Sérgio Moro para Lula se apresentar espontaneamente em Curitiba, o berço da Lava Jato, para início de cumprimento da pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso triplex do Guarujá (SP).
Lula passa o dia com a porta fechada e dois policiais fazem a segurança do lado de fora da porta. A limpeza da sala especial não será feita pelo ex-presidente – na carceragem são os presos que limpam as celas, principalmente por questão de segurança. Funcionárias que fazem os serviços no prédio da PF cuidarão do cárcere de Lula.
Título. Depois de ditar os passos de sua rendição e prisão para a PF, Lula sentiu já no domingo os primeiros efeitos do encarceramento. O ex-presidente pôde receber seu advogado Cristiano Zanin e o amigo, ex-deputado petista e também advogado Sigmaringa Seixas para assistir pela TV o primeiro tempo da final do Campeonato Paulista, em que o Corinthians, seu time do coração, venceu o Palmeiras, nos pênaltis. O gol foi comemorado com os advogados e amigos, mas a conquista do título – no caso contra o arquirrival, o que confere valor redobrado – se deu sem comemoração explícita.
O ex-presidente Lula fez chegar aos seus correligionários a mensagem de que o mais importante não é o lugar onde ele está, mas o acesso a ele. Lula não reclama da condição do espaço físico, mas do que considera um isolamento total a que foi submetido. Os petistas classificam o local como uma “solitária”.
Segundo um integrante da cúpula da sigla, Lula considera “inaceitável” não poder receber visitas. Nove governadores e três senadores foram barrados. “Não há possibilidade de um prédio da polícia virar uma espécie de comitê político partidário, isso está descartado”, afirmou ao Estado um policial, que pediu à reportagem para não ser identificado. O isolamento político é a maior preocupação de Lula.
Fonte: o estadão
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