A Vila de Caraíva, distrito de Porto Seguro, muito conhecida por suas belezas naturais, vai se tornar, entre os dias 21 e 24 de setembro, um reduto também da cultura e literatura indígena do Norte e Nordeste do Brasil, com o 1º Festival Caju de Leitores.
A proposta do evento, que reúne 8 autores de 6 etnias é apresentar a literatura indígena infanto-juvenil. Uma extensa programação contará com oficina de escrita e ilustração, cinema, contação de histórias, rodas de conversa com estudantes e comunidade, além de muitas trocas culturais.
ESCOLHA
A escolha de Caraíva e da literatura indígena para este evento se dá pelo fato de que a população local é em grande parte oriunda da miscigenação com a etnia indígena Pataxó e está em processo de resgate e transmissão da sua cultura. Aldeia Xandó, Centro do Caraíva e Nova Caraíva serão o palco do Festival, que reúne autores do Ceará, Amapá, Roraima, Pará e Bahia.
Sairi Pataxó é o anfitrião do evento e, acompanhado da produtora cultural Jonna Savaglia, realizam o Caju. O nativo e morador da Aldeia Xandó, Sairi é autor do livro Boitatá e outros casos de índio, que terá sua 4ª edição, anunciada no Festival. Já Joanna tem uma longa história de amor pelo vilarejo, que teve início em 1993. A produtora é conhecida no meio literário, por suas participações na Flip – Festa Literária internacional de Paraty, onde atuou de 2011 a 2016 na e na Flup – Festa Literária das Periferias, trabalhando desde sua primeira edição, há 12 anos. ‘Devota’ da literatura, como meio de melhorar a vida das pessoas, Joanna e Sairi criaram o Festival como forma de mostrar como a literatura pode ajudar na educação dos jovens.
“Principalmente dos locais e da comunidade indígena Pataxó das aldeias Xandó e Barra Velha e também dos entusiastas da cultura. Acreditamos que é preciso empoderar os jovens, para que seus destinos e conhecimentos sejam melhores e mais vastos que os de seus antepassados”, ressalta Joanna.
ENCONTRO
O encontro contará com a presença do escritor e músico descendente do povo Wapichana Christino Wapichana, de Roraima, produtor do Encontro de Escritores e Artistas Indígenas; da poeta e contadora de história macapaense da etnia Tucuju, Lucia Moraes Tucuju, fundadora da Biblioteca Comunitária Pequenalegria; da poeta, escritora, palestrante, curadora e pesquisadora de literatura indígena e doutrora em literatura, Julie Dorrico do povo Mucuxi, de Roraima; da contadora de histórias indígenas, palestrante e oficineira, Auritha Tabajara, do Ceará, primeira mulher indígena a publicar livros em literatura de cordel no Brasil; da paraense de descendência Aymara e Kayapó ,Aline Kayapó, escritora, ativista dos movimentos das mulheres indígenas e dos direitos dos povos indígenas; do doutor em História da Educação, Edson Kayapó, pertencente ao povo Mebengokré, do Amapá; e Sairi Pataxó, anfitrião do Caju, escritor, contador de histórias, fotógrafo e liderança indígena e comunitária, conselheiro na Resex Marinha do Corumbau e no Conselho Ambiental e de moradores de Caraíva.
O Caju é gratuito e tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale e da Farmácia Indiana, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Mais informações pelo Instagram do festival @cajuleitores (https://www.instagram.com/cajuleitores/).
Confira a programação do Festival Caju de Leitores
Dia 21 – Quarta-Feira – Oca Tururim
Chegada dos autores
18h – Atividade Cultural
19h – Abertura na Biblioteca, evento livre
20h – Cinema atrás da igreja com FCTQuarta – Oca Tururim
Dia 22 Quinta-Feira – Oca Tururim
Rodas de Conversa
9h – Lucia Tucuju conta histórias
11h – Auritha Tabajara – Contação de História
14h – Aline Kayapó – Contação da história A filha do grande Djoybekro
16h – Edson Kayapó – Fala sobre seu livro Projetos e Presepadas
18h – Julie Dorrico entrevista Sairi dos Anjos Santos
18h – Cinema na Escola de Nova Caraíva
Dia 23 – Sexta-Feira – Oca Tururim
Rodas de Conversa
9h – Lucia Tucuju ensina a confeccionar um instrumento para a contação de história
11h – Edson Kayapó – Fala sobre seu livro Projetos e Presepadas
14h – Aline Kayapó – Contação da história A filha do grande Djoybekro
16h – Auritha tabajara – dança
18h – Cristino
18h – Cinema na Escola de Nova Caraíva
17h _ Oficina de cinema Chaplin
Dia 24 – Sábado – Salas de aula/Biblioteca
Oficina
9h/18h – Oficina de Escrita e de Ilustração: Ancião conta história, Cristino oficina de escrita e Duda Oficina de Ilustração
18h – Fechamento do evento com os convidados lendo um trecho de um livro que gostam ou contando uma história
18h – Cinema na Escola de Nova Caraíva
Autores Confirmados
Christino Wapichana (RO) – Cristino Wapichana (Boa Vista, Roraima, 1971). Escritor e músico. Descendente do povo Wapichana, Cristino colabora para a difusão da cultura indígena para crianças e jovens através da organização de atividades e vivências recreativas. É produtor do Encontro de Escritores e Artistas Indígenas.
Lucia Moraes Tucuju (AP) – Lucia Moraes é atriz, poeta e contadora de história macapaense. Pedagoga por formação e proliferadora de arte e cultura por natureza. Radicada no Rio de Janeiro a 19 anos,faz da arte sua história e conta histórias fazendo arte. Uma proliferadora da leitura por natureza. Fundadora da Biblioteca Comunitária Pequenalegria, Pedagoga por formação com pós em psicopedagogia e Arte Educadora. Uma artista que traz em seu sobrenome artístico Tucuju, sua étnica ancestralidade e em sua obra as muitas vivências da mata e da cidade.
Julie Dorrico (RO) pertence ao povo Macuxi. É Doutora em Teoria da Literatura na PUCRS (2021). Mestre em Estudos Literários e licenciada em Letras Português pela UNIR. É poeta, escritora, palestrante, curadora e pesquisadora de literatura indígena. Venceu em 1o lugar o concurso Tamoios/FNLIJ/UKA de Novos Escritores Indígenas em 2019. Administradora do perfil @leiamulheresindigenas no Instagram. Curadora da I Mostra de Literatura Indígena no Museu do Índio (UFU). Autora da obra “Eu sou macuxi e outras histórias” (Caos e Letras, 2019).
Auritha Tabajara (CE) – Primeira neta dos avós maternos, cresceu ouvindo as lindas histórias de tradição contadas por sua avó. Apaixonada pela rima escreve desde que aprendeu a ler e escrever. É escritora cordelista, terapeuta holística em ervas medicinais, contadora de histórias indígenas, palestrante e oficineira. Tem vários textos em cordéis publicados nas antologias indígenas, participou de várias feiras literárias nacionais e internacionais como a Festa Literária Internacional de Paraty e a FLUP – Festa Literária das Periferias, entre outras. Sua mais recente publicação, Coração na Aldeia Pés no Mundo. Auritha foi a primeira mulher indígena a publicar livros em literatura de cordel no Brasil.
Yacunã Tuxá (BA) é ativista e artista visual oriunda do povo indígena Tuxá, do município de Rodelas. Graduanda em letras pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Yacunã transformou sua arte na principal ferramenta na luta contra o racismo e em defesa dos povos indígenas. Suaobras são potencialmente influenciadas pela espiritualidade, memória e sabedoria das anciãs de seu povo e permitem um novo olhar sobre o indígena contemporâneo. Por meio da ilustração e colagem digital, ela expressa a diversidade de corpos e culturas, a força e a pluralidade das mulheres indígenas, a memória e história do povo Tuxá. Paricipou das exposições Véxoa: Nós Sabemos (Pinacoteca – SP); Amar: Verbo Transitivo; Um Outro Céu; e IMS Quarentena.
Aline Kayapó (PA) é natural de Belém do Pará, filha de mãe descendente Aymara e pai Kayapó. Escritora, ativista dos movimentos das mulheres indígenas e dos direitos dos povos indígenas.
Edson Kayapó (AP) é doutor em história da educação e possui pós-doutorado em história e historiografia da Amazônia. Pertencente ao povo Mebengokré, nascido no estado do Amapá-Amazônia.
Sairi Pataxó (BA), nasceu em 1980 e pertence ao Povo Pataxó da Aldeia mãe do território Barra Velha. Morador da Aldeia Xandó, em Caraíva Velha, distrito de Porto Seguro, no Sul da Bahia, cresceu ouvindo histórias de variadas origens e nacionalidades. Histórias contadas nos quintais e no meio da mata, por vozes diversas, muitas vezes, ao redor da fogueira. Tudo isso contribuiu para a sua formação de escritor, contador de histórias, fotógrafo e liderança indígena e comunitária. Sairi ainda milita e é exímio defensor do meio ambiente. Atua também com as questões sociais e culturais, da saúde, da educação. É conselheiro na Resex Marinha do Corumbau e no Conselho Ambiental e de moradores de Caraíva. Por ser grande admirador das histórias e vivências dos encantados da mata, do rio, do mar, ele sentiu motivação para escrever seu livro “Boitatá e outros casos dos índios”, editado em.2012. Em 2020, participou do projeto Memórias na Biblioteca de Caraíva, pela Lei Aldir Blanc, em que os casos foram contados por seus personagens e transmitido nas redes sociais.